A primeira viagem de circum-navegação, que aconteceu entre 1519 e 1522, consta da lista das 64 novas coleções inscritas no Registro da Memória, divulgada hoje pela UNESCO. Com a inscrição de mais 64 coleções, o Registo da Memória do Mundo passa a ter 494 coleções registadas.
A viagem, liderada por Fernão de Magalhães e concluída por Sebastian Elcano, é “um marco na História da Humanidade por várias razões”. “A mais evidente é que os homens que concluíram esta jornada foram os primeiros a dar uma volta completa à Terra”, lê-se no comunicado da UNESCO. Destaca também que a primeira viagem de circum-navegação “teve um impacto significativo no conhecimento geral da Humanidade, visto que tornou possível perceber a vastidão da América do Sul e do Oceano Pacífico, abrindo caminho para uma nova e mais concreta noção da dimensão da Terra”.
Os documentos, cuja candidatura foi feita em conjunto por Portugal e Espanha, “mostram a preparação da viagem, a relação complementar entre portugueses e espanhóis, bem como os primeiros testemunhos dessas descobertas”. Criado em 1992, o programa da UNESCO Memória do Mundo pretende “prevenir a perda irreparável de herança documental – documentos ou coleções de documentos de valor significativo e duradouro, em papel, audiovisual, digital ou qualquer outro suporte”. Através deste programa, a UNESCO “visa salvaguardar este patrimônio e torná-lo mais acessível ao público em geral”.
A inscrição de coleções no Registro de Memória do Mundo tinha sido suspensa em 2017, devido a divergências entre os estados envolvidos no processo de nomeação. “Um importante esforço coletivo permitiu que o procedimento fosse redesenhado e as nomeações foram ‘relançadas’ em 2021. Em 24 de maio de 2023 resultaram na decisão unânime da direção executiva da UNESCO de inscrever 64 novas coleções documentais”, lê-se no comunicado hoje divulgado. Entre as 64 coleções agora inscritas no registro, constam também o legado da bióloga, congressista e feminista brasileira Bertha Lutz (1894-1976), “Feminismo, Ciência e Política”, candidatado pelo Brasil, e os arquivos e manuscritos do Templo Kong Tac Lam de Macau.
Portugal está presente neste registro desde 2005, com a inscrição da Carta de Pero Vaz de Caminha, tendo-se seguido, mais tarde, entre outros documentos, o Tratado de Tordesilhas (numa candidatura com Espanha), manuscritos das Descobertas, o roteiro da primeira viagem de Vasco da Gama à Índia, a documentação do primeiro voo Atlântico Sul, os manuscritos de comentário ao Livro do Apocalipse do Lorvão e de Alcobaça, o Códice Calixtinus (em conjunto com Espanha), e os livros de vistos concedidos pelo cônsul português em Bordéus, Aristides de Sousa Mendes (1939-1940), que permitiram a fuga de judeus da perseguição nazi, na França ocupada pelas forças de Hitler.
Fonte: Lusa e Mundo Lusíada