“Todo homem tem deveres com a comunidade”

Declaração Universal dos Direitos do Homem

Opinião
Opinião

OPINIÃO

Opinião

Maria Dorotéia Moysés Fragata
Empresária e jornalista

Maria Dorotéia Moysés Fragata, ou Dorotéia Fragata como é mais conhecida, nasceu em Marília, Estado de São Paulo, em 23 de novembro de 1958, filha do casal Abel Augusto Fragata Filho e Marieta Moysés Fragata. Mas, mal conheceu a sua cidade natal. Com três anos de idade, mudou-se com a família para Adamantina, interior do Estado de São Paulo.

Em uma época que não havia televisão no interior e, com a mãe, lendo para as duas filhas que se mudaram para a pequena cidade – seis mil habitantes, na época – todas as noites os livros infantis de Monteiro Lobato, aprendeu a gostar de ler rapidamente. A irmã mais velha, Maria Lucia, de Marília, logo mudou-se para São Paulo para estudar jornalismo. E como tinham 16 anos de diferença, não foi ela que influenciou Dorotéia na profissão que viria a escolher aos 17 anos de idade.

“Meu nome era muito incomum. Foi herança da avó paterna e, provavelmente, por isso, prestei mais atenção na origem portuguesa. Quando apareceu, no colégio que eu estudava, a primeira Festa das Nações e fui intimada pelas freiras a representar uma colônia, escolhi a portuguesa. E uma família de imigrantes me emprestou a fantasia com direito a xale para arrumar na cabeça e tamanco de madeira. E a mãe da minha amiga Elizabeth Gaspar foi quem me vestiu. Começava aí o meu carinho por Portugal! ”

Logo seu pai percebeu esse carinho e uma das primeiras músicas que a ensinou a cantar foi o fado corrido que Amália Rodrigues cantava foi É Uma Casa Portuguesa. Animados, então, pelo interesse da filha não faltaram autores portugueses entre os livros da família. Eça de Queirós e Fernando Pessoa, Gil Vicente e, depois, José Saramago fizeram parte da sua construção do conhecimento.

Quando seu pai conseguiu comprar um projetor de slides, uma vez por semana, passava um carretel deles de lugares do Brasil e do mundo. Foi assim que conheceu Portugal, na pré-adolescência. E, depois, passou a pesquisar os pontos turísticos de todos que viu nos slides em coleções como Delta Larousse, Delta Júnior e Barsa.

As redações que escrevia na escola sempre chamaram a atenção dos professores. E ganhou dois prêmios – um de melhor redação regional sobre o folclore e as influências no povo brasileiro e outra, sobre os lugares que queria conhecer, destaque, claro, para Portugal e França.

Cursou Jornalismo na FIAM dos 17 aos 20 anos de idade e, aos 18, já trabalhava nas redações. Primeiro, no Suplemento Feminino onde a irmã era editora, depois na Sigla Editora e Abril, onde também levou prêmio de melhor redatora.

Quando voltou a São Paulo – parou por cinco anos para cuidar do pai com AVC e mãe com paralisia renal – tornou-se assessora de imprensa pela Manager e acabou montando a sua própria assessoria aos 34 anos de idade, grávida do filho, Matheus.

“É interessante você descobrir que foi neta de imigrantes – por parte da mãe, libanês e do pai, português – e tentar fazer o caminho inverso. Quando me formei, meu pai prometeu uma viagem a Portugal como presente. Minha mãe não deixou que ele comprasse a passagem. Fui até a TAP e peguei todos os folhetos que tinham lá. E mandei carta para a embaixada portuguesa, tentando uma bolsa de estudos lá. Não consegui, infelizmente”, lembra ela.

Em 2001, foi chamada para ser assessora de imprensa da FIPAN – Feira Internacional de Panificação e Confeitaria – que aconteceu no Mart Center, com o sr. Frederico Maia, como presidente. “O sotaque da maioria da diretoria lembrou o do meu avô, que conheci aos 5 anos de idade. E toda a história da minha ‘descoberta’ com Portugal, veio à tona. Quando ele faleceu, o sr. Antero José Pereira me convidou para ser assessora de imprensa do Sampapão. E eu aceitei”, continua;

No ano seguinte, pensando em como fazer a panificação sair na mídia, criou um regulamento e ofereceu ao presidente, Antero e ao vice, Manoel Alves, sobre um prêmio voltado às matérias que saíssem sobre padarias. Os dois levaram a proposta à diretoria e, assim nasceu o Prêmio Sampapão de Jornalismo que, na época, dava duas passagens à Lisboa para os melhores entre a mídias eletrônica – rádio, TV e internet – e impressa – revistas e jornais. “Eu brinquei com o sr. Antero e disse no dia da resposta dele em relação ao prêmio – também quero conhecer Lisboa. E a diretoria me deu a passagem para conhecer Portugal. Essa viagem começou em Paris – conheci a Europain, na época, a segunda maior feira de panificação do mundo -, Itália, onde fiquei hospedada no mosteiro de Santa Edwiges e Lisboa. Levei meu filho comigo e junto tivemos as férias das nossas vidas”, diz.

Lisboa, para ela, foi um lugar à parte dessa viagem. “Cheguei quase sem dinheiro lá. Estava hospedada na parte baixa de Lisboa, meu quarto dava vista para o Castelo de São Jorge e queria conhecer tudo em apenas quatro dias. Olhei um panfleto de tour local e liguei para o Mrs. Friends. Quem atendeu foi um brasileiro sem sotaque algum português. Na minha inocência perguntei se ele aceitaria um cheque. O moço, bem-educado, perguntou o que eu fazia e eu disse que era jornalista e assessora de imprensa. Ele cedeu quatro passeios em troca de assessoria de imprensa para o Mrs. Friends. E meu filho aproveitou junto. Foram dias lindos, cheios de emoção e de uma sensação de pertencimento que eu não tinha conhecido até então. Pensava no meu bisavô e como ele deixou tudo e foi para o Brasil, morar numa pensão no bairro do Brás em São Paulo. Quando chegamos em Fátima, eu e o Matheus chorávamos como crianças, uma emoção enorme. Eu lembrava das novenas da minha mãe e pensava na história dos três pastorinhos. E o meu filho consolidou a sua fé”, lembra.

Descobriram o Museu do Queijo e os burricos na quinta, o Museu do Azulejo – não podia faltar esse passeio para quem ouviu “Um São José de azulejos” durante a infância toda -, a vinícola Periquita, o Palácio de Sintra, Cascais e Óbidos. “Triste foi voltar. Queria descobrir de onde o meu avô tinha vindo e queria conhecer o Porto. Não deu tempo”, diz.

 

Pandemia

Que a pandemia deixou todos dentro de casa, é público e notório. Mas o Matheus Fragata correu atrás, junto com um amigo, do passaporte português para ele e a mãe. “Do nada, descobri a história da minha família paterna toda. O João Paulo Zago, amigo do Matheus, se especializou em levantar as histórias de várias famílias de imigrantes e, levantou a do meu avô. Apanhou um pouco para descobrir o primeiro casamento dele – meu avô foi casado três vezes – mas, com a ajuda de familiares, descobriu também. Agora temos toda a documentação para conseguirmos o passaporte europeu. Meu avô veio de Lagoaça, Freixo de Espada à Cinta, Bragança, em 04 de fevereiro de 1884 e batizado no dia 18 do mesmo mês. Logo em seguida vieram para o Brasil. A família composta pelo meu bisavô, bisavó e tio-avô Abílio, ficaram algum tempo em uma pensão no Brás, em São Paulo. Só não descobri a profissão do bisavô. Meu avô tornou-se carteiro do Correio Central e, quando foi transferido para Araraquara, casou-se com Angélica e, depois de enviuvar, com Dorothéa Marques Girão Fragata”, comenta.

A Fragata Comunicação, da qual é sócia-fundadora e acaba de completar 30 anos de existência, continua até hoje assessorando o Sampapão, a FIPAN e a Disciplina de Otorrinolaringologia do HCFMUSP, na qual o professor titular, Ricardo Ferreira Bento, também é descendente de portugueses. E, nos finais de ano, quando entregam os prêmios para Portugal – atualmente, o primeiro colocado vai para Paris, o segundo para Lisboa e o terceiro para uma capital de qualquer país sul americano. Atualmente, as passagens são para Mídia Impressa – revista e jornais, Internet, Rádio e TV.

“Tenho muita vontade de voltar a Portugal. Meu sonho é ir até a casa do meu avô e olhar o que é parte da minha história de vida. E, nesses anos todos, aprendi a conviver com todos os portugueses pertencentes à diretoria do Sampapão e ver a trajetória de cada um. Hoje, o presidente Rui, foi reeleito como vice-presidente da UIBC, na Alemanha, o que deixa a todos nós com muito orgulho. Gostaria de levar um grupo de jornalistas netos de portugueses como eu a se conectarem com o passado que lhes deu vida. Tenho muita gratidão pela Santa Terrinha”, finaliza Dorotéia.

Patrocinadores
Conselho da Comunidade Luso-Brasileira do Estado de São Paulo
Edifício "Casa de Portugal" Av. Liberdade, 602 - São Paulo/SP - Cep 01502-001 - Celular/WhatsApp +55 (11) 94513-0350 - Telefones +55 (11) 3342-2241 e (11) 3209-5270
www.cclb.org.br - cclb@cclb.org.br - Entidade de Utilidade Pública - Lei Estadual 6.624 de 20/12/1989 - Jornalista responsável: Maristela Bignardi - MTb. 10.204

Somos privilegiados pela herança lusitana e também por podermos contar com o Conselho da Comunidade Luso-Brasileira do Estado de São Paulo que é o órgão que congrega nossa cultura viva em solo paulista. Pelo Conselho a história não se perde, porque uma das diretrizes da entidade é preservar e valorizar nossos usos e costumes que mantêm a tradição de nossa gente sempre presente nos festivais, no folclore, na música e na gastronomia. A ação do Conselho é defender um legado histórico e cultural inestimável.

Este site usa cookies. Os cookies neste site são usados ​​para personalizar o conteúdo, fornecer recursos de mídia social e analisar o tráfego. Além disso, compartilhamos informações sobre o uso do site com nossos parceiros de mídia social, publicidade e análise da web, que podem combiná-las com outras informações que você forneceu a eles ou que eles coletaram do uso de seus serviços.
Concordo